Meu pai era ruim com dinheiro. Mas ele também era bom. Estranho? Vou explicar.
Quando meu pai faleceu, em 2015, ele tinha R$ 31 na conta corrente. Só isso mesmo. Não, não tinha poupança, nem outros investimentos, nem dinheiro debaixo do colchão.
Ao longo da vida toda, tudo que ele e minha mãe fizeram de “maior” (reforma na casa, compra de um carro melhor) foi ou com a grana que minha mãe conseguia juntar. Ela não trabalhou fora depois que teve filhos, então essa poupança dela era um milagre da multiplicação a partir do dinheiro que meu pai dava.
Minha mãe chegava a esconder dele essa poupança (ela interceptava o extrato da Caixa assim que os Correios entregavam pra ele não ver). Não porque ele fosse brigar com ela ou pegar o dinheiro, nem nada. Mas porque ele ia querer gastar com qualquer coisinha minimamente inesperada que aparecesse.
Ele era assim. Dizia que “dinheiro era pra gastar” e que “depois morre e fica tudo aí pros outros“.
Foi num período de desemprego dele, no qual a poupança da minha mãe nos salvou, que ele começou a “aceitar mais” essa ideia de ter um dinheiro guardado. Mas sempre nas mãos da minha mãe. Na dele, era vendaval.
Como pode imaginar, puxei dela a preocupação com o futuro e a necessidade de guardar algum dinheiro para emergências. Só que a maior lição financeira que meu pai me deu foi depois que ele partiu.
Foi só nesse momento (quando entrei nas burocracias pós-morte – você sabia que mortos declaram Imposto de Renda??) que percebi quanto ele ganhava pouco de aposentadoria. Sério, muito pouco!
Sempre o ouvi reclamando que a cada ano a aposentadoria dele diminuía (ele não entendia de economia, nem inflação, mas todo brasileiro sente na pele – e no supermercado – o conceito “diminuição do poder de compra”).
Ele se aposentou quando eu tinha 11 anos de idade. Sem o ensino fundamental completo, não conseguiu mais emprego (em 1997 o bicho tava pegando – a crise não é uma invenção de agora). E ele tocou o resto da vida uma casa com dois filhos adolescentes com aquela miseriazinha de aposentadoria!
E quando ele se foi, tínhamos casa quitada, um carro bom, e zero dívidas. Se isso também não é uma espécie de milagre, eu não sei como chama.
Uma das maiores lembranças que tenho do seu Salim (não era um nome árabe, era só o diminutivo de Gonçalo em mineirês) era ele na mesa do quintal fazendo contas em pequenos pedaços de papel.
E eu sou igualzinha! Fazer meu orçamento é tipo um hobby. Abir minha planilha” chega a ser uma distração quando tô entediada com alguma outra tarefa. E meus papeizinhos com contas, anotações e números podem ser encontrados em qualquer canto da minha casa!
Muito do nosso comportamento financeiro é herdado dos nossos pais. Dos exemplos que a gente teve. Das crenças que eles nos transmitiram.
Mas quero te dizer hoje que, se seus modelos financeiros em casa eram péssimos, isso pode ser uma coisa boa pra você! Você só precisa usar de maneira inteligente ao seu favor:
Último lembrete: seus pais fazem parte de uma outra geração. 20, 30 anos atrás, era impensável acessar alguns investimentos hoje disponíveis pra gente. Por mais que eles te amem, alguns conselhos vão estar, sim, ultrapassados. Passe esse filtro do século 21 e, denovo, lembre que você é a responsável pelo seu futuro financeiro. Pegar nas mãos seu próprio poder financeiro é maravilhoso e eu recomendo.
E muita gratidão aos que chegaram antes de você e que, do jeito deles, te ensinaram muito.